Resenha do filme “Diários de Motocicleta” por Lucas Almeida

Diários de Motocicleta é um filme lançado em 2004 sob a direção de Walter Salles e roteiro por José Rivera cuja história conta sobre a vida de Ernesto “Che” Guevara (Este interpretado por Gael García Bernal) antes de se tornar um revolucionário marxista. 

O filme, diferentemente do que muito se espera, não tem um começo, meio e fim. Pelo menos não sob a ótica de uma trama com heróis e vilões. Ele é calmo e, ao mesmo tempo, divertido. 

Os personagens saem de sua cidade natal a fim de completarem uma grande viagem pelo continente americano, especificamente o latino. Essa viagem, em sua maioria, é percorrida numa velha moto que a cada nova cena está quebrada ou os leva a queda. 

É interessantes vê-los viajar e passar por provações, a maneira como cada um lida com a situação e, juntos, se sobressaem (Ainda que suas personalidades sejam muito diferentes) torna a trama instigante. Há momentos nos quais o telespectador, trazendo o acontecimento para si, pode se questionar como agiria, concordando ou não com os personagens. 

O mais marcante, no entanto, não é apenas como ambos conseguem manter uma boa convivência (ainda que com muitos trancos e barrancos)  e, sim, como eles são mudados ao longo da viagem pois se deparam necessitados da ajuda de estranhos que sequer são da mesma nacionalidade. 

Esses estranhos também são ajudados por eles quando, por exemplo, em uma das cenas, há enfermos. (Ernesto é médico, ou quase, largou o último semestre para fazer a viagem) Ou, viajantes sem terra ou o que comer. 

A pobreza e o trabalho braçal mal remunerado ganham forças aos olhos do personagem que, aparentemente, até então mantinha-os fechados para tudo isso. Talvez por nunca ter tido a experiência de viver de perto aquela dura realidade. Como muitos, provavelmente, também não passaram ou passarão e por isto deixam de lado, escondem-se. Fingem não ver. 

Assim, após chegarem a um dos destinos, os amigos se despedem e o filme se encerra, muito antes do que poderia ser esperado, mas que ainda assim tem o seu desfecho completo. Afinal, essa trajetória percorrida serviu para abrir a mente e mudar por inteira a vida de Ernesto e de muitos que viriam a seguir. 

Resenha do livro “A invasão cultural norte americana” de Júlia Falivene Alves por Lucas Almeida

Publicado pela primeira vez em 1988, A invasão cultural norte-americana, de Júlia Falivene Alves, é um livro curto, composto por quatorze capítulos que falam sobre como o Brasil é um país cuja política foi (e vem sendo) fortemente influenciada por ideais norte-americanos. Estes sendo divulgados e implementados, prioritariamente, por meio da cultura e multinacionais. 

Inicialmente o leitor é introduzido a alguns pontos importantes para o entendimento da leitura e, até mesmo, explicações. Estes pontos são: A denúncia que é feita no livro em forma de críticas fundamentadas na história do Brasil, o reconhecimento de que, por mais que essas críticas tenham sido levantadas, há o respeito e a boa incorporação da cultura do outro (espera-se) e, por fim conceitos cujas interpretações podem ser inúmeras. Tudo isso vai explicar o teor ácido que o texto assume durante o passar dos capítulos e, que de maneira alguma, perde a confiabilidade ou a seriedade. 

O livro traz desde críticas relacionadas às classes sociais (como quando cita Marx e conceito de ideologia) ao povo brasileiro, ao jovem, à música, à TV, ao rádio, à formação das crianças, aos blocos políticos, aos fatos históricos, às empresas multinacionais entre outras áreas/setores dos quais muitos não tem ideia de como podem ser influenciados. 

Uma característica marcante é a facilidade com a qual o leitor pode entender o texto por causa da boa escrita e didática que são encontradas no livro. Não é preciso ser político ou historiador para entender os fatos, somente muito leigo para não buscar, ao menos, uma reflexão. A ausência de termos de área de especialidade ajuda bastante na contribuição dessa escrita. 

Retomando o que foi dito anteriormente, o teor ácido do livro é criado por conta das inúmeras críticas e denúncias, afinal o intuito dele é despertar uma visão crítica aos acontecimentos passados, atuais e futuros para que o mesmo (ou pior) não se repita. Uma passagem do texto na qual pode-se observar esse fato é:

O objetivo comum era interligar todo o país pelos meios de comunicação. A integração nacional tornaria possível a difusão massiva e maciça de mensagens que garantiriam a padronização de opiniões, desejos e valores, colocando-se facilmente no mercado maior quantidade de produtos, tanto materiais quanto ideológicos (ALVES, 2012, p. …)

    Ao ler esse trecho o leitor é confrontado a, pelo menos, pensar se concorda ou não com o fato exposto: De que a mídia, em especial a TV dado a época, é uma arma de controle, alienação usada tanto para divulgar os produtos de consumo quanto os ideais imperialistas norte-americanos. Outra passagem que demonstra esse teor é: 

Usando-se também o vídeo, o sentimento patriótico do brasileiro seria manipulado pela ditadura a fim de afastá-lo o mais possível de militâncias ou manifestações que de algum modo pudessem mudar o quadro político nacional. (ALVES, 2012, p. …)

Dessa maneira, em vez de criar no brasileiro um senso crítico que o convide a participar ativamente e, de fato, na construção do país, ele é levado ao canto, onde tem seus olhos, bocas e ouvidos tapados da realidade. 

Essas e outras questões são muito bem levantadas pela escritora no livro, de um modo que não soa impositivo ou pessimista, pelo contrário, convidativo e otimista. Ela apresenta os fatos e busca criar um processo mental crítico-analítico no leitor, visando olhar sempre todos os lados da moeda ou versões da história. Não acreditar em tudo que ouve, lê e (principalmente) vê. 

Escrito por Lucas Almeida

Resenha do filme “O homem que virou suco” de João Batista Andrade por Lucas Almeida

Essa resenha de longe abordará aspectos cinematográficos, assunto do qual tenho pouco conhecimento, no entanto abordará o tema do filme que me trouxe inúmeras reflexões e manteve acordado durante uma madrugada. 

    O filme “O homem que virou suco”  é uma produção brasileira produzida por João Batista Andrade, lançada em 1981 e aclamada tanto nacionalmente como lá fora. 

 A história conta sobre a vida de um Paraibano Nordestino chamado Deraldo José da Silva, que larga a vida no campo para tentar a sorte na cidade de São Paulo. Lá, ele tenta ganhar a vida vendendo poesia nas ruas, mas acaba enfrentando uma série de críticas e complicações. 

Primeiro lhe perguntam se tem “documento”, afinal ali era São Paulo e não o nordeste, todo bom paulistano tinha “documento”. Não tendo um, por ser caro de se conseguir, Deraldo é obrigado a deixar as ruas nas quais buscava vender sua poesia de panfleto que custava apenas dez (10) cruzeiros. 

As coisas começam a ficar complicadas quando o confundem com um operário assassino cujas mãos foram culpadas da morte do patrão da firma. Sem documento para provar a própria identidade tem que fugir da polícia e logo busca por emprego. 

Obrigado a trabalhar, buscou serviço entre homens que vendiam sua força bruta. Teve que desmistificar a história do assassinato, mais uma vez,  e trabalhar com serviço pesado, não aguentou. Pediu demissão e foi embora sem receber um tostão, mas para ele não era humilhação. Via gente se orgulhar de tanto se matar de trabalhar, mas diferente dos outros criticava o porquê e quando lhe vinham com a discriminação, por ser um nordestino sem noção, lhes mostrava a razão com uma poesia.

Ao longo da história se depara com gente de todos os tipos, pessoas como ele: nordestinas a trabalhar nas fábricas, como o dono do bar onde arranjou briga, como os patrões do trabalhos que frequentou, da mulher com quem dividiu a cama, da moça do hospital de quem teve tratamento até chegar no dono da fábrica, que mal falava português.

Esse trazia coisas de fora, uma engenhoca “audiovisual” para explicar pros operários o que era legal.  Prometia progresso, se trabalhassem comportados, se não criassem caso ou fizessem fuzuê. Dizia que era retrocesso. 

Deraldo lia cartas que os operários recebiam de suas famílias do interior, todas trazendo muito verdade e dor. Gente aos monte, sete ou oito, que queriam vender as terras e se “picar” para São Paulo, ganhar um salário mínimo e se matar de horas extras. Ele também escrevia respostas, já que os outros não eram tão letrados. Só mesmo abestados.  

Em suma, o filme retrata a vinda de um nordestino paraibano para São Paulo numa época em que a cidade estava em crescimento e a mão de obra era necessitada nas fábricas para as construções dos prédios.  Mostra a discriminação que o povo nordestino sofria (ainda sofre, de outras maneiras) e como a arte era banalizada, sem tempo. Afinal, o homem tinha mesmo é que se matar de trabalhar. 

Mas pra quem?

Pro inimigo opressor, pro imperialista mentiroso. Pro falante de inglês, pro chique e refinado. Pro maldito americano.  Pras suas fábricas que exploram, pros seus produtos que geram miséria.  

Enfim: 

Seguem trechos retirados do filme em diversos momentos de tela: 

“Tudo esses pau de arara é Silva” – Policial retrucando quando ouve o nome do personagem Ederaldo, que fora confundido com José Severino da Silva. 

“Aqui é São Paulo” – Homem aborda Deraldo numa rua (que me lembrou a Paulista) e o impede de vender sua poesia. 

“Pra que serve o nordeste? Pra enforcar o nordestino. E qual é o seu destino? É de ser cabra da peste”, “Pra que serve a cidade? Pra viver no corre corre”,   – Trechos da música que toca no final do filme: Mourão Voltado – Vital Farias. (https://youtu.be/w8YbTJfR_9o